A operação com substâncias químicas na indústria vai muito além do cumprimento das exigências legais: ela impacta diretamente a saúde e a segurança dos trabalhadores, a reputação da empresa e até os custos operacionais. Quando falamos de processos terceirizados, esses cuidados precisam ser ainda mais rigorosos, pois a gestão dos riscos envolve múltiplas equipes, fornecedores e níveis de responsabilidade.
Neste artigo, vamos explorar como as empresas podem estruturar uma gestão eficiente e preventiva dos riscos químicos em operações terceirizadas. Abordaremos as normas regulamentadoras que orientam essa prática, os principais indicadores e metodologias de investigação de acidentes e, por fim, um checklist prático com pontos essenciais para reforçar a segurança e garantir a conformidade.
Trabalhar com produtos químicos significa lidar com substâncias que podem causar impactos graves à saúde e ao meio ambiente, mesmo em pequenas exposições. Não se trata apenas de evitar multas ou processos trabalhistas: falhas nesse gerenciamento podem gerar acidentes graves, contaminações e até paralisações de produção.
Segundo dados do INSS, somente em 2023 foram registrados 742.137 acidentes de trabalho no Brasil, representando um aumento de 10,6% em relação a 2022. Uma parte significativa desses acidentes está relacionada ao manuseio inadequado de agentes químicos – um dado que reforça a importância de processos preventivos e monitoramento constante.
Para garantir que todos os envolvidos sigam padrões de segurança, algumas Normas Regulamentadoras (NRs) são indispensáveis:
NR-9 – Avaliação e Controle das Exposições Ocupacionais a Agentes Químicos: orienta empresas a identificarem riscos e implementarem medidas de controle adequadas, como ventilação, EPIs e monitoramento ambiental.
NR-26 – Sinalização de Segurança: define a padronização de cores, etiquetas e cartazes, garantindo que riscos sejam comunicados de forma clara e visível a todos.
Além disso, em abril de 2025, a Comissão Nacional Tripartite Temática (CNTT) avançou nas discussões sobre novos limites de exposição para substâncias como benzeno, tolueno e xileno, o que deve impactar diretamente empresas que atuam com esses produtos. Manter-se atualizado sobre essas mudanças é essencial para evitar passivos e proteger colaboradores.
Quando ocorrem incidentes – ou sinais de que algo poderia ter dado errado – é fundamental que a apuração seja feita de forma técnica e profunda. O Método MAPA, desenvolvido pela Fundacentro, propõe uma análise que vai além da busca por culpados: ele avalia fatores organizacionais e técnicos que levaram ao evento e define ações corretivas, reduzindo a probabilidade de recorrência.
Essa abordagem não só melhora a segurança, como também ajuda empresas a criar uma cultura preventiva e proativa, fortalecendo a relação com fornecedores e colaboradores.
Para facilitar a implementação de uma gestão robusta, listamos os principais pontos que devem ser verificados em qualquer operação terceirizada que envolva agentes químicos:
Avaliação inicial de fornecedores: exija documentação de conformidade, incluindo MAPAs de risco atualizados, laudos toxicológicos e comprovação de treinamentos.
Capacitação contínua: realize treinamentos periódicos (pelo menos semestrais) sobre uso correto de EPIs, leitura de Fichas de Informação de Segurança de Produtos Químicos (FISPQs) e procedimentos de emergência.
Monitoramento ambiental e biológico: sempre que possível, instale sensores de concentração em tempo real e realize exames periódicos nos colaboradores expostos.
Plano de resposta a emergências: mantenha rotas de evacuação, comunicação interna e procedimentos de descontaminação claros e treinados por todos os envolvidos.
Assim, adotar boas práticas de gestão de riscos químicos na terceirização não é apenas cumprir a legislação – é proteger vidas, garantir a continuidade dos negócios e fortalecer a imagem da empresa perante clientes e parceiros. Com processos claros de avaliação, treinamento, monitoramento e resposta a incidentes, é possível transformar obrigações legais em oportunidades de melhoria contínua, criando um ambiente de trabalho mais seguro e sustentável para todos.